quinta-feira, 27 de outubro de 2022

009 - A Festa do Rosário em Conceição do Mato Dentro - 02


Retornamos à cidade mineira de Conceição do Mato Dentro em 01/01/2020 para acompanhar de perto a Festa do Rosário, que acontece todo primeiro dia do ano,  do nascer do sol até a noite.


Todas as fotos desta postagem foram tiradas por Raul Lisboa durante a Festa do Rosário em Conceição do Mato Dentro, MG, em 1º de Janeiro de 2020.


No Brasil as Festas de Nossa Senhora do Rosário são promovidas, em sua maioria, pela população descendente dos negros que foram escravizados ao longo dos séculos XVII a XIX. A celebração congrega devoção à santa católica, com resquícios culturais e religiosos de matriz africana. 
 



Entre os santos de maior devoção dos negros no Brasil colonial encontravam-se São Benedito, São Elesbão e Santa Efigênia, todos negros; no entanto, junto a eles estava também Nossa Senhora do Rosário que, ao contrário dos demais, era branca, mas que era considerada a padroeira dos escravos em Portugal, África e Brasil.




Originalmente a organização da Festa do Rosário em território brasileiro ocorria por meio das Irmandades de mesmo nome, fundadas por negros no contexto da escravização. Estas Irmandades, a princípio, tinham caráter essencialmente assistencialista.




Contudo, o rápido aumento da população de negros e de seus descendentes, decorrente do crescimento explosivo das atividades de extração de ouro no século XVIII, facilitou o contato entre os escravizados, inclusive de etnias distintas. 




Ao mesmo tempo, a mobilidade característica das atividades auríferas facilitava ainda mais a relação entre grupos de negros cativos e libertos.




Nesse sentido, as Irmandades acabaram se tornando fundamentais para também selar a união dos diferentes grupos negros que se faziam presentes na sociedade setecentista.



A Festa do Rosário surgiu igualmente como um movimento de resistência do povo negro durante o período da escravidão, simbolizando até hoje sua resiliência e fé diante desse período doloroso da história brasileira.


Em Conceição do Mato Dentro, as 
Festas do Rosário dos Pretos começaram a ser organizadas pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, a mais antiga da cidade (1723).




Com o passar do tempo, a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário acabou por se desarticular, mas a grande popularidade da Festa do Rosário dos Pretos fez com que a comunidade conceicionense assumisse a responsabilidade de continuar a realizá-la.






Por ocasião da Festa, a cidade toda se prepara para receber os grupos locais e os provenientes de municípios vizinhos.




evento tem ornamentação, culinária, música, missas, cortejos, bandas musicais, dança e diversas apresentações dos folguedos folclóricos como o Congado, o Catopé, o Candomblé e a Marujada, sendo este último o grupo mais tradicional dedicado à louvação à santa.








Durante as Festas do Rosário também acontece o Reinado, que a cada ano é conduzido por um Rei e uma Rainha (eleitos no ano anterior) e sua corte. 



As coroas do Rei e da Rainha do Rosário são patrimônios históricos de Conceição do Mato Dentro, conservadas por décadas, desde os primórdios da festa.





Estas ainda são acrescidas por espetáculos pirotécnicos e levantamento de mastros com as bandeiras de Nossa Senhora.



Como ocorre até hoje, desde o século XVIII diversos folguedos folclóricos saiam em cortejo pelas ruas da cidade, acompanhando o desfile do Rei e da Rainha, conforme atestam as aquarelas de Carlos Julião.


Aquarela de Carlos Julião, segunda metade do século XVIII - BNDigital.

Carlo Juliani, como era seu nome de batismo, nasceu em 1740 em Turim, Itália. Em 1763 ingressou como tenente no Regimento Real de Artilharia do exército português. 
Como parte do seu treinamento militar em engenharia, frequentou aulas de desenho, que preparavam os oficiais portugueses em missão pelo império no registro de informação visual sobre os povos e territórios colonizados pelos portugueses.


Aquarela de Carlos Julião, segunda metade do século XVIII - BNDigital.


Aquarela de Carlos Julião, segunda metade do século XVIII - BNDigital.


As três aquarelas de sua autoria aqui presentes foram produzidas na segunda metade do século XVIII e fazem parte do catálogo "Riscos Illuminados de Figurinhos de Negros e Brancos dos Uzos do Rio de Janeiro e Serro do Frio", publicado pela Biblioteca Nacional em 1960.





Conforme já dissemos, a Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos acontece sempre no dia 1° de janeiro, sendo o Rei e a Rainha responsáveis pela organização do evento.



Além do Rei e da Rainha, durante todo o ano muitas pessoas, empresas e instituições contribuem a realização da Festa do Rosário com doações das mais diversas, desde a compra de materiais, contratação de grupos até a distribuição de doces.





A Festa de N. Sra. do Rosário em Conceição do Mato Dentro não foi a única manifestação religiosa popular que tivemos o privilégio de presenciar em nossas andanças pela Cordilheira do Espinhaço, conforme veremos em outras postagens. Prossiga conosco!


Fontes:


2009, SÁ, Ana Maria Carvalho de Miranda, A Proteção do Rosário de Nossa Senhora - Rituais e Valores Simbólicos do Congado. Revista do IHGB. Rio de Janeiro, jan/mar, 2009, pp. 295-317.

2013, EVARISTO, Maria Luiza Igino, Sincretismos, Negociações e Conflitos : Apropriação e Inversão do Catolicismo nas Irmandades de Nossa Senhora do Rosário na Minas Gerais do Século XVIII, Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciência da Religião, área de concentração: Ciências Sociais da Religião, da Universidade Federal de Juiz de Fora.






segunda-feira, 26 de setembro de 2022

008 - Conceição do Mato Dentro - 01


Se voceis pensam que nóis fumos embora
Nóis enganemos voceis
Fingimos que fumos e vortemos
Ói nóis aqui traveis

(Adoniram Barbosa)


Olá pessoal, estamos de volta após um breve intervalo de quatro meses!!!

Com esta postagem, iniciamos o relato do percurso que fizemos pela Cordilheira do Espinhaço em maio de 2019 e cujos primeiros dias foram registrados e ilustrados por Isabel em seu Diário de Viagem.

Partindo de Belo Horizonte, nos dirigimos à cidade de Conceição do Mato Dentro, nossa primeira parada e ponto inicial do trajeto que fizemos pelo antigo Caminho dos Diamantes.

O município de Conceição do Mato Dentro encontra-se na Região Central de Minas Gerais, na vertente oriental da Serra do Cipó, integrante da Cordilheira do Espinhaço. Sua sede dista 165 km da capital mineira por estradas asfaltadas e situa-se a 740 m de altitude sobre o nível do mar.

A origem de Conceição do Mato Dentro remonta a 1704, quando os paulistas Gabriel Ponce de Leon, Gaspar Soares e Manuel Corrêa de Paiva chefiaram a bandeira que descobriu ouro no rio Santo Antônio. (2022, site do IBGE)

Outros aventureiros afluíram à região e, em pouco tempo, estava formado o Arraial da Conceição do Serro, elevado à categoria de Vila em 23 de março de 1840. Na sequência, em 10 de outubro de 1851, a Vila de Conceição foi elevada à categoria de Cidade. Por fim, o decreto-lei nº 1.058, de 31 de dezembro de 1943, deu-lhe a atual denominação de Conceição do Mato Dentro. (1995, BARBOSA)

Acompanhem o Diário e tenham todos uma boa viagem!












Transcrição do Diário de Viagem - Dia 01/05/2019

No dia 01 de maio partimos de Belo Horizonte com destino a Conceição do Mato Dentro. Às 9:00 h, após o café na casa dos meus pais, tomamos a direção da Serra do Cipó. E estrada está toda asfaltada e as paisagens são lindas. Foi nosso primeiro contato com a Serra de Espinhaço. O Cipó está bem diferente da última vez que estivemos por lá, há mais ou menos vinte anos atrás. Muitas lojas, pousadas, comércio. A ciclovia, projeto da Helô, ficou muito boa. Tornou-se uma simpática vila, o Cipó. 

A Serra do Espinhaço apresenta uma conformação bem diferente de cada lado. Na face oeste ela é mais escarpada que na face leste, e ela mantém esta característica em toda a sua extensão.

Em Conceição ficamos na Pousada Alto do Baú. Fica fora do centro, parece um sítio. No seu auge já hospedou gente famosa: Gilberto Gil, Lenine, Milton Nascimento, entre outros. Almoçamos no restaurante self-service Solar da Lili, comida mineira gostosa. Passeamos pela cidade e enquanto o Mô tirava fotografias, eu fiz dois sketches, um da Matriz de N. Sra. da Conceição e outro da Cadeia Velha. 



Igreja Matriz de N. Sra. da Conceição, Conceição do Mato Dentro, MG - Aquarela de Isabel Lima e Silva, 2019.



Detalhe da Torre do Sino - Igreja Matriz de N. Sra. da Conceição, Conceição do Mato Dentro, MG - Fotografia de Raul Lisboa, 2019.



Cadeia Velha, Conceição do Mato Dentro, MG - Aquarela de Isabel Lima e Silva, 2019.






Transcrição do Diário de Viagem - Dia 01/05/2019 (continuação)

No dia 01 também visitamos o Chafariz da República ou da Praça D. Joaquim. É um monumento bastante interessante. Na parte inferior possui 4 figuras com a cabeça em forma de gárgula que sustentam um pedestal onde está de pé a figura do "guerreiro guarani" com as mãos na cintura, olhar para o alto, vestido com pequeno saiote e um manto que vai até os pés, enfeitado com brincos de argola e colar de plumas. É uma figura muito bizarra! 

No final do dia 01 apreciamos o pôr do sol no Salão de Pedra. Jantamos na pousada caldos de mandioca, de feijão e de alho poró.



Chafariz da Praça Dom Joaquim, Conceição do Mato Dentro, MG - Aquarela de Isabel Lima e Silva, 2019.



Por do Sol no Parque Municipal Salão de Pedra - Fotografia de Isabel Lima e Silva, 2019.






Transcrição do Diário de Viagem - Dia 02/05/2019 

No dia 02 de maio fomos à famosa Cachoeira o Tabuleiro, a maior de Minas Gerais e a terceira mais alta do Brasil (273 m), que se localiza no Parque Natural Municipal do Tabuleiro. Fizemos uma trilha que leva até o mirante, onde se pode observar a cachoeira de frente. Ela é muito bonita, mesmo com pouca quantidade de água. No caminho observamos flores de campos de altitude, fotografamos todas. Ficamos um bom tempo no mirante aguardando as nuvens darem licença para o sol. Fiz um sketch, que ainda falta finalizar. Voltamos com ótimas fotos da cachoeira iluminada. 

Almoçamos no Restaurante Família, no vilarejo de Tabuleiro, comidinha caseira, gostosa e barata, comandada pela Neuza. Após o almoço, percorremos as poucas ruas e a praça da Igreja Sagrado Coração de Jesus, apreciando a calma do local. 



Cachoeira do Tabuleiro, Parque Municipal do Tabuleiro, Conceição do Mato Dentro, MG - Aquarela de Isabel Lima e Silva, 2019.



Flora Rupestre, Parque Municipal do Tabuleiro, Conceição do Mato Dentro, MG - Fotografia de Raul Lisboa, 2019.



Capela do Sagrado Coração de Jesus, Vila do Tabuleiro, Conceição do Mato Dentro, MG - Fotografia de Isabel Lima e Silva, 2019.









Transcrição do Diário de Viagem - Dia 02/05/2019 (continuação)

À tarde visitamos a cidade de Conceição: Praça da Igreja do Rosário, Mercado Municipal, Catedral do Senhor Bom Jesus do Matozinhos, Igreja de Santana e Alto do Cruzeiro. No Mercado Municipal visitamos a Loja do Queijo e depois de degustarmos vários queijos fortes, escolhemos um meia-cura (mais novo). Demos uma boa dormida e depois jantamos na pousada (comida caseira).


Transcrição do Diário de Viagem - Dia 03/05/2019

Pela manhã fomos novamente ao Mercado Municipal ver os produtos locais, as pessoas, fazer fotos. Estava bastante movimentado. Construído no Centro Histórico, ao lado da Capela de N. Sra. do Rosário dos Pretos, é um importante espaço de promoção da cultura regional e de abastecimento. Data de 1931.



Igreja de N. Sra. do Rosário, Conceição do Mato Dentro, MG - Fotografia de Raul Lisboa, 2019.



Vendedor de Queijo, Mercado Municipal, Conceição do Mato Dentro, MG - Fotografia de Raul Lisboa, 2019.



Santuário do Senhor Bom Jesus de Matozinhos, Conceição do Mato Dentro, MG - Fotografia de Raul Lisboa, 2019.



Capela de Santana, Conceição do Mato Dentro, MG - Fotografia de Raul Lisboa, 2019.



Alto do Cruzeiro, Conceição do Mato Dentro, MG - Fotografia de Raul Lisboa, 2019.



Transcrição do Diário de Viagem - Dia 03/05/2019 (continuação)

Seguimos para a Cachoeira do Rabo de Cavalo, numa estrada de terra com paisagens deslumbrantes. Cada montanha incrível! A cachoeira é muito bonita e tem um lago bem profundo. Fiquei no mirante fazendo um sketch e depois desci para encontrar o Mô, lá embaixo. Resolvemos almoçar no Tabuleiro de novo. 

Na volta passamos o Sítio Arqueológico Dourado, que possui pinturas rupestres super difíceis de ver. Descansamos na pousada e jantamos pizza no La Fattoria.



Estrada para o Parque Estadual do Intendente, Cachoeira Rabo de Cavalo - Fotografia de Raul Lisboa, 2019.



Cachoeira Rabo de Cavalo, Parque Estadual do Intendente, Conceição do Mato Dentro, MG - Aquarela de Isabel Lima e Silva, 2019.



 Pintura Rupestre no Sítio Arqueológico Dourado, Conceição do Mato Dentro, MG - Fotografia de Raul Lisboa, 2019.



Por hoje, é só. Mais Conceição na próxima postagem, não percam!



Para saber mais:

BARBOSA, Waldemar de Almeida, 1995 -  Dicionário Histórico Geográfico de Minas Gerais, Editora Itatiaia Ltda., Belo Horizonte.



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domingo, 24 de abril de 2022

007 - Pinceladas Biográficas


Você sabia que a Cordilheira do Espinhaço:


- É a única cordilheira brasileira;

- Possui mais de 1.000km de extensão;

- É o principal reservatório natural de água da Bahia e de Minas Gerais;

- Separa a Mata Atlântica do Cerrado, além de abrigar os Campos Rupestres;

- Foi e ainda é uma das mais importantes províncias minerais do planeta Terra;

- Concentrou, no auge do Ciclo do Ouro, o maior contingente de escravos de origem africana do país;

- Foi responsável pela interiorização da ocupação colonial do território brasileiro;

- Foi a principal causa da mudança da capital do Vice-Reino do Brasil, de Salvador para o Rio de Janeiro;

- Contribuiu com seu ouro para a reconstrução da capital portuguesa, Lisboa, arrasada pelo forte terremoto ocorrido em 1755;

- Contribuiu com seu ouro para o financiamento da revolução industrial na Inglaterra;

- Está intimamente ligada à criação do organismo federal de proteção ao patrimônio histórico, artístico, arquitetônico, urbanístico e cultural brasileiro;

- Abriga quatro Patrimônios Mundiais Culturais da UNESCO;

- Abriga uma Reserva da Biosfera da UNESCO;

- Abriga o mais importante acervo de arte contemporânea do Brasil e um dos maiores museus a céu aberto do mundo;

- É o berço da maior mineradora brasileira, empresa líder mundial na exportação de minério de ferro;

- Foi palco da maior 
tragédia ambiental da história brasileira e a maior do mundo envolvendo barragens de rejeitos de mineração;

- Foi palco do mais letal acidente de trabalho no Brasil, novamente envolvendo o rompimento de uma barragem de rejeitos de mineração?


Não sabia? Nós também não! Ou melhor, só muito recentemente tomamos conhecimento da maioria das afirmativas acima. 


Mas, então, de onde vem o nosso interesse pela Cordilheira do Espinhaço? Nossa biografia talvez ajude a explicar. 


Isabel nasceu em Belo Horizonte, o que, se não lhe confere automaticamente o título de "Amiga do Espinhaço", facilita bastante a identificação. 


Casa onde cresceu Isabel, bairro Renascença, Belo Horizonte, MG - Aquarela de Isabel Lima e Silva, 2018.


Como sou natural do Rio de Janeiro, a Cordilheira só entrou no meu mundo um pouco mais tarde, por volta de 1970, através da participação nos Festivais de Inverno de Ouro Pretojunto com uma galerinha do colégio


Portávamos apenas as passagens de ida e volta de ônibus Rio / Ouro Preto, algum dinheiro para comer, poucas roupas na mochila e nenhum local certo para dormir, mas o nosso deslumbramento era total com a paisagem de Ouro Preto, as montanhas circundantes, a névoa, a arquitetura colonial, a inebriante sensação de liberdade, a garoa, as garotas, os cursos de arte, as apresentações teatrais e musicais, as tardes e noites em torno de violão e cachaça, as novas amizades e, ao fim de cada jornada, o garimpo nem sempre bem sucedido de um cantinho quente para dormir.


Ouro Preto em noite fria de lua cheia - Foto de Raul Lisboa, junho de 2019.


Dez anos mais tarde, já formado, uma oportunidade de trabalho me levou a Belo Horizonte, onde conheci Isabel. Logo começamos a namorar. 


Pouco depois larguei o emprego (que pagava mal e atrasado) e fui morar numa comunidade alternativa rural sem luz elétrica em Brumadinho, não muito longe de Belo Horizonte. Essa comunidade se chamava Fazenda Mãe d'Água por causa de uma magnífica cachoeira que brotava já caudalosa no meio da Serra da Moeda, dentro do terreno da fazenda. Nossa rotina era agricultura, yoga, meditação, comida vegetariana, banho gelado e leitura à luz de velas. 


Isabel, sempre que podia, se despencava de BH pra me visitar, fazendo de ônibus a primeira parte do percurso e, em seguida, encarando sozinha e a pé uma estrada isolada e pirambenta para atravessar a Serra do Moeda. Eu a acompanhava até o ponto de ônibus no percurso inverso. Espinhaço na veia. 



Percurso feito a pé entre o ponto de ônibus que vinha de Belo Horizonte e a Fazenda Mãe d'Água, lançado sobre foto Google Earth de 2004: 100 metros morro acima, 400 metros morro abaixo, 3.620 metros de deslocamento em planta. Em 1981, quando fazíamos esse percurso, ainda não existia o condomínio de casas - Retiro do Chalé - que se vê à esquerda da imagem. 



Depois de algum tempo, saí da comunidade e voltei a procurar trabalho como engenheiro. Participamos de um processo seletivo conduzido por representantes do governo da República Popular de Moçambique, fomos selecionados, nos casamos e em maio de 1982 seguimos para Maputo e Pemba



Baobá gigante em bairro popular de Pemba, Moçambique - Imagem gerada a partir do escaneamento de foto de Raul Lisboa, 1983.


Em agosto de 1983, após 15 meses de serviço, nos desligamos dos nossos empregos em Moçambique e partimos para uma viagem mochileira de 4 meses pela África e pela Europa, retornando ao Brasil em dezembro de 1983.


Após um curto período no Rio de Janeiro, em outubro de 1984 fui admitido na filial mineira da Companhia Brasileira de Trens Urbanos. Nos fixamos novamente em Belo Horizonte e geramos e criamos duas filhas lindas, Ana Luiza e Júlia. Permanecemos na capital mineira até 2002, quando a vida nos trouxe de volta ao Rio de Janeiro. 


Durante a permanência em Belo Horizonte aproveitávamos e continuamos a aproveitar toda e qualquer oportunidade para percorrer de carro as estradas das vizinhanças, atrás de cachoeiras e paisagens barrocas. 


Passeando com os amigos e "cumpadis" Susi e César, na Lapinha da Serra, distrito de Santana do Riacho, MG - Foto tirada com disparador automático, 2011. 

Acabamos comprando, em sociedade com os amigos que aparecem nessas fotos, um sítio em Rio Acima, também na Cordilheira do Espinhaço e igualmente sem luz elétrica, mas atravessado por um fantástico riacho encachoeirado


Júlia, Ana Luiza e Isabel, na rede da varanda do nosso sítio em Rio Acima, MG - Imagem gerada a partir do escaneamento de foto de Raul Lisboa, 1992.



Sítio em Rio Acima, MG, município atravessado pelo Caminho de Sabarabuçu. Em primeiro plano vê-se o falecido Júlio, colega de trabalho e um dos sócios do sítio, e eu. Logo atrás estão a minha antiga, poderosa e fumacenta Chevrolet Veraneio e a casa do caseiro. Em terceiro e quarto planos, a mata e a montanha, tudo dentro do nosso latifúndio. Imagem gerada a partir do escaneamento de foto de Isabel Lima e Silva, 1989.


Assim fomos acumulando milhagem e nos apaixonando cada vez mais entre si e por essa incrível cordilheira que, mais tarde, em 2005, ao realizarmos uma viagem de férias de carro para a Chapada Diamantina, percebemos que não ser apenas mineira, mas baiana também.


Morro do Camelo, Chapada Diamantina, Palmeiras, BA - Foto de Raul Lisboa, 2005.


Em 2019, com as filhas casadas e morando no exterior, decidimos conhecer melhor a Cordilheira do Espinhaço, razão pela qual empreendemos a Primeira Expedição do Projeto Espinhaço.